segunda-feira, 13 de abril de 2015

Carta #1

Olá, como estás?

Há tempos que não sei nada de ti. Tens passado bem? Tens passado mal? Tens novidades para mim? Sei que sinto muito a tua falta, sei que todos os dias me lembro de ti e desejo com toda a força do mundo que voltes para mim, que voltes a bater há minha porta só porque te apetece estar comigo. Volta. Apenas volta. As saudades que tenho de ti são mais do que alguma vez vou sentir por outra pessoa que possa conhecer neste mundo. Estou aqui e nem sei onde tu estás. No dia em que a tua irmã me ligou a dizer que tinhas ido para um sítio melhor interroguei-me que sitio seria esse. Onde existiria um sítio melhor? O meu mundo caiu quando percebi o que ela me queria dizer, tinhas partido, mas partido de vez. E agora? O que iria eu fazer sem ti? Como iria eu ser feliz? Deixaste-me ou eu deixei-te a ti?

Aquela discussão nunca devia ter acontecido. Desculpa. Desculpa. Desculpa. Desculpa mil vezes. Afinal sobre o que discutimos? O que é que nos fez discutir de maneira tão agressiva que foi preciso vires ter comigo? Que merda de discussão me fez desligar o telemóvel na tua cara e não voltar a atender? Não me consigo lembrar o que nos levou àquelas palavras. Consigo lembrar-me das palavras horríveis que te disse. Todos os dias elas ecoam na minha mente. Como pude ser tão estúpida e deixar tudo aquilo sair da minha boca? Como? Coisas que eu nem sentia foram ditas sem qualquer sentido. Quem me dera poder voltar atrás, quem me dera poder voltar e remediar tudo o que aconteceu. Irritaste-me e agora irrito-me a mim própria. Tenho saudades tuas, acho que já o disse, mas preciso de o dizer.

Ainda ontem peguei no telemóvel, marquei o teu número e o que ouvi do outro lado? Que não estava atribuído. Mas que parvoíce a minha, não estás aqui. Mas que sitio é esse onde não existem telemóveis? Queria apenas voltar a ouvir a tua voz, queria apenas voltar a ouvir-te a dizer o meu nome, queria apenas voltar a ouvir aquele "estou aqui" que me dizias todos os dias.

Tenho medo de te esquecer, muito. Tenho medo de esquecer tudo o que passámos. Às vezes? Às vezes, nem me consigo lembrar da tua cara. Que espécie de pessoa sou eu? Disseram-me que não nos lembramos de tudo, que quase tudo se vai da nossa mente, mas eu não quero isso. Preciso que continues aqui comigo. Vão fazer 5 anos. 5 anos e ainda estou no ponto em que estou. É só que tenho saudades tuas. Estejas onde estiveres espero que um dia possas ler estas palavras ou, pelo menos, espero voltar a encontrar-te e levar o rascunho comigo para que te possa ler. 

Éramos tão bons um para o outro. Éramos tão felizes um com o outro. Agora tenho medo de perder os meus amigos, tenho mais medo que nunca, já viste o que me fizeste? Falo como se a culpa fosse tua, provavelmente é minha, mas vão sempre dizer que não. Lá no fundo sei que é minha. Podia ter tido mais cuidado. Desculpa outra vez.

De qualquer maneira, agradeço por ter tido a sorte de te conhecer. Agradeço por todos os momentos felizes que me deste. Agradeço por todas as noites em que ficaste comigo ao telemóvel só porque estava com medo dos trovões. Agradeço por toda a paciência que tiveste comigo, mas não penses que foi fácil para o meu lado. Apesar de tudo, de todas as coisas más que passámos, porque ainda foram algumas, ficaste do meu lado. Deste-me o teu sorriso. Deste-me a tua amizade. Deste-me as tuas palavras. Agora não tenho nada teu, nada físico a não ser uma fotografia e uma camisola tua. Espero que não te importes mas tive que me livrar de tudo o que tinha teu, simplesmente não conseguia lidar com o saber que tinha ali as tuas coisas a chamarem por mim. A tua irmã trouxe-me a caixa, mas não consegui mantê-la comigo. Não está no lixo, está guardado noutro sítio, porque sei que um dia vou precisar de ver tudo outra vez. 

Deseja-me sorte. Continua a olhar por mim e não deixes de o fazer, se é que alguma vez deixaste de o fazer. Hei de voltar a escrever. 

Com muitas saudades,
Carolina Moreira

1 comentário:

  1. Tens o dom de me deixar sempre com a lágrima ao canto do olho quando escreves textos ou cartas mais profundos. Eu já sei a história e nem sei o que te diga, simplesmente foi preciso depois da entrevista.

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